quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Com a palavra... ANA ELISA RIBEIRO



1) Ana Elisa Ribeiro, conte sobre sua carreira e os novos projetos.
Comecei novinha, ali antes dos 20 anos, e levei a escrita literária a sério quando ganhei um concurso de poemas, no jornal Estado de Minas. Eu tinha uns 19 anos. Publiquei meu primeiro livro aos 22, na coleção Poesia Orbital, organizada pelo poeta Marcelo Dolabela. Daí em diante, não parei mais. Participei de antologias e eventos. Tenho 5 livros de poesia publicados e vários outros, de outros gêneros e para outros públicos. O livro mais recente é o Xadrez, publicado em 2015, pela Scriptum, uma livraria-editora muito respeitada e importante em BH e em Minas (talvez o Brasil inteiro ainda não tenha se dado conta disso). O projeto que vem chegando é um livro de poemas para adolescentes, pela RHJ, mas ainda não sei quando sairá. Está em produção. Além disso, tenho livros técnicos, da minha produção acadêmica. Agora em novembro lancei o Beijo, boa sorte, pela Jovens Escribas, de Natal, que é um livro de contos curtos. Faço, com o poeta Bruno Brum, a coleção Leve um Livro, que distribui 5 mil livrinhos de poesia contemporânea em BH, todo mês, ao longo do ano. Fechamos a primeira temporada agora, em dezembro de 2015, e temos pela frente mais duas, 2016 e 2017. Serão mais 48 poetas apresentados e reapresentados ao público que coleciona.

2) O que é a poesia pra você?
Poesia para mim é um gênero de texto literário muito especial e muito específico. Da forma como a leio, é o único que realmente me surpreende. Gosto de concisão e de lirismo, com pitadas de humor, se possível. Gosto mais de uns do que de outros, como sempre é. Mas acho que a poesia precisa ter um encaixe, precisa ser inteligente. Engendrada, engenhosa. Preciso sentir o clique dela. Senão ela fica próxima do jogo de palavras ao léu, daí me encanta menos.

3) Como é o seu processo criativo?
Escrevo sem muita disciplina, aqui e ali, quando a ideia me incomoda. Ideia, sentimento, impressão, palavra, o que seja. De tudo o que faço na vida, a muito maior parte é feita à noite, então sem chance de produzir algo de manhã, por exemplo. Tenho um escritório meio sagrado em casa, onde me enfurno para ler, escrever, pensar, brincar. A poesia é um gênero que só produzo de vez em quando, mas vou enchendo um arquivo. Quando acho que tenho um arquivo bom, vou lá peneirar. É um garimpo. O livro só sai depois de muito lavar, escorrer, secar. E isso não garante excelência, claro.

4) Fale um pouco sobre o seu poema “Duas Vidinhas” que está no livro Sobre Lagartas e Borboletas (Tubap Books/Scenarium, 2015).
Foi muito divertido escrever “Duas vidinhas”. Não é o processo normal, mas também acontece. O poema foi uma encomenda, com tema definido. É um exercício de perícia e malícia. Pensei logo na coisa da metamorfose e do tempo das lagartas/borboletas. Tudo tão rápido, aos olhos humanos. Tanta transformação para durar tão pouco. E também pensei, é claro, na metáfora disso, pra nós. Uma delícia participar.

5) Ana Elisa por Ana Elisa: lagarta ou borboleta?

Ah, difícil. Acho que estou sempre mais para lagarta. Borboleta é muito drag. Vivo sem montagem alguma. Rastejo mais do que voo. Queimo mais do que pouso. (risos)



quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Com a palavra... ALEXANDRE GUARNIERI




1) Alexandre Guarnieri, conte sobre sua carreira e o impacto da indicação ao prêmio Jabuti deste ano para o seu livro Corpo de festim (Ed. Confraria do vento, 2014).

AG - Nunca pensei na poesia como uma carreira (a não ser a acadêmica), mas penso que se o poeta sente necessidade de encontrar outros que estejam em sintonia com seus anseios éticos e estéticos, outros escritores ou gente do meio literário, e que para isso acabe organizando sua agenda pessoal em torno de saraus, feiras de livros, oficinas, eventos literários, lançamentos ou sinta necessidade de organizar seu tempo de leitura e produção, daí tudo isso pode acabar configurando algo que vagamente se assemelhe a uma carreira. Sendo esse o caso, a minha é bem desastrosa e irregular. Sempre me senti indisciplinado, assaltado pela poesia nos momentos menos convenientes. Sinto que poderia ler mais. Ainda prefiro acreditar que administrar carreira literária deveria ser trabalho de outros, editores, agentes literários, produtores culturais, captadores de recursos, organismos públicos, e não dos próprios artistas da palavra. Há a questão crucial da visibilidade. Pra você ser lido, as pessoas tem que saber que você existe, e sua produção tem que estar disponível.
Nesse caso, a indicação de finalista ao Jabuti pode ajudar bastante a despertar o interesse de quem está por aí, ávido por novas leituras. A profissionalização da atividade do escritor (a carreira) depende de uma cadeia enorme de outras atividades que lhe fogem do controle. A receita é apenas persistir. Escrever, escrever, escrever. Rasgar, reescrever, rasgar, reescrever, lutar contra a indisciplina, durante anos a fio. Meu primeiro livro, "Casa das Máquinas" (Editora da palavra, 2011), levou 15 anos pra ficar pronto. Afinal, somos nossos primeiros críticos, não é mesmo?

2) O que é a poesia para você?

AG - Poesia é criar um quebra-cabeças pra você mesmo resolver, é se deixar capturar por algum ruído e não parar de persegui-lo, é uma espécie de fisioterapia, onde a contusão "inspira", dor inicial, o incômodo, o problema, daí o poema é a busca da cura, de formas de controlar a dor, de conviver com ela. 

3) Como é o seu processo criativo?

AG - Irregular e variado. A necessidade do poema pode nascer de uma palavra ouvida de repente ou lida noutro livro, de uma cena de filme, de um solo de guitarra, ou tudo isso junto, é caos. Escrevo à mão em caderninhos, guardanapos, pedaços de papel. Escrevo no metrô, andando ou parado diante do computador. Gravo algumas falas no telefone celular, depois transcrevo e parto daí, ou finalizo assim. O poema é uma erupção vulcânica, quando a pressão aumenta, a fumaça sai pelo poro mais próximo.  

4) Fale um pouco sobre o seu poema “Aurélia” que está no livro Sobre Lagartas e Borboletas (Tubap Books/Scenarium, 2015).

AG - Topei participar porque a crisálida e a borboleta, enquanto metáforas, também falam do ato criador, de transformação, de alquimia e transmutação; depois, veio o erotismo, embutindo nas asas da borboleta os lábios de uma vagina, e persegui essa imagem pensando em mulheres que se viram presas, apartadas do prazer, mas superaram traumas e se permitiram renascer, daí a imagem final: o orgasmo como libertação. Agradeço demais a oportunidade e o convite para participar da antologia.

5) Guarnieri por Guarnieri: lagarta ou borboleta?

AG - Certamente, os dois, em constante mistura, aparição e desaparição. Vida e morte nos perseguem nos detalhes, nas escolhas, como símbolos, nos acompanham e nos moldam. A lagarta morre para que a borboleta possa nascer, e sempre há algum aspecto nosso que precisa morrer, para que possamos nos transformar, seguir jornada, aceitando a impermanência.





quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Com a palavra... ALBINO ALVES



1) Albino Alves, conte para nós sobre a sua carreira artista.
Nasci em 17 de agosto de 1954 em Paranavaí-Paraná; fiz curso técnico contábil e administrativo, aos 18 anos ingressei no Teatro Estudantil de Paranavaí (1973) participando de várias montagens como Marcha para o oeste, Pluft, o fantasminha, Édipo Rei, Auto da Compadecida e vários shows lítero-musicais. Em São Paulo desde 1979, ingressei no Grupo Cênico Reginas Pacis, S.B.do Campo, participando das montagens O Presépio dos bichos, Liberdade, Liberdade... e Estranho Procedimento. Somei os cursos de dramaturgia com Celso Nunes-UEL e curso em montagem com os textos de Luiz Fernando Veríssimo com direção de Armando Azzari, montagem defendendo tese de dramaturgia na USP.
Albino em peça de teatro 

Escrevi a peça infantil aprovada e inscrita na SBAT, "...e o gato não comeu”. Atualmente escrevo poesias – tenho uma pasta cheia sem editar. Prêmios; 2º lugar declamação FEMUP- Festival de Música e Poesia de Paranavaí  e 2º lugar em poesia "Poema Zeca-cipó - D.A.T.A.

2) Qual o papel da poesia hoje na sua vida?
 Aos 61 anos de idade a poesia é tudo, pois me inspiro sempre que entro no Facebook. Nunca preparo antes, poucos poemas tinha em gaveta, a maioria sai aqui na hora.

3) Como é o seu processo criativo?
Depois que entrei no Facebook,  crio tudo na hora e na tela, às vezes escrevo coisas erradas relativas a sentimentos, volto para editar corrigindo.

4) Fale um pouco sobre o seu poema “Desabotoando casulos” que está no livro Sobre Lagartas e Borboletas (Tubap Books/Scenarium, 2015) e que inspirou várias esculturas de Flávia Taiano na exposição de Niterói/RJ e Florianópolis/SC.
Desabotoando casulos saiu na hora; instantâneo assim que você me solicitou, acredito que você percebeu, pois você acabou de solicitar e eu já fui escrevendo o que sentia relativo às Lagartas e borboletas. Pois é assim, solto tudo na hora junto com a inspiração do momento, às vezes me arrependo de postar alguma coisa, volto e excluo.

5) Albino por Albino: lagarta ou borboleta?
Albino Alves já está voando há muito tempo já botei três ovos e que são minhas filhas lindas e um neto, e esse voo é lindo demais, sou feliz com elas.

Crisálida de botões de Flávia Taiano