1)
Alberto Bresciani, na sua carreira literária, ser Ministro do Tribunal Superior
do Trabalho é complemento ou antagonismo?
É
uma das muitas faces da realidade. No Brasil, como em tantos países, poucos são
os que podem permitir-se viver apenas de literatura. Sempre gostei de ler e de
escrever e faço isso por força de meu trabalho. Repito esses exercícios,
ler e escrever, por gosto, em literatura. Já era assim quando me tornei juiz,
aos 27 anos. São mundos muito diferentes, mas não os diria necessariamente
complementares ou antagônicos. Cada qual ocupa uma parcela da atmosfera e tento
respirar em todos.
2) O que é a poesia pra você?
Como
experiência pessoal, prazer, provocação, desafio, tentativa de ser uma pessoa
melhor. Como conceito, está lançado o enigma. A poesia está na vida, é forma de
apreender e refletir o mundo sob lentes de aumento ou de distorção, meio de
traduzir pela voz e linguagem que se consiga o tempo e o momento em que o poeta
está vivo. O poema, resultado de um pouco de sopro e, depois, de doses maciças
de reflexão e esforço.
3) Como é o seu processo criativo?
Bandeira
dizia ser necessário esperar que a poesia o visitasse. Se valia para um grande
como ele, imagine para o simples artesão que eu sou? Ler poesia - e leio muito
- cria o estado de espírito capaz de transformar uma manchete de jornal, uma
cena de rua, personagens de livro ou cinema, música, uma árvore, eu mesmo em
poema. A partir da ideia inicial, escolher então as imagens, as palavras, a
estética que melhor expressem o objetivo pensado. Depois, recortar e refazer o
poema até que ele se canse de mim.
4) Fale um pouco sobre o seu poema
“Antimetamorfose” que está no livro Sobre
Lagartas e Borboletas (Tubap Books/Scenarium, 2015).
A
proposta seria negar o determinismo da vida, poder voltar atrás ou avançar para
melhor corresponder ao que se deseja. Renegar o óbvio. E uma surpresa, Adriana,
para o que eu imaginei um projeto de Facebook. Recebi a deixa, escrevi o poema.
Poderia ser melhor.
5) Bresciani por Bresciani: lagarta ou borboleta?
Não
sei! Projeto de vir a ser ou um resultado final destinado a cumprir seu papel
exato no universo? Acho que fico com as possibilidades da metamorfose (uma
carta na manga).
Ilustração de Cristina Arruda para o poema no livro Sobre Lagartas e Borboletas |